Um Sonho de Simplicidade – Rubem Braga

Boa tarde!
Façamos uma pausa no turbilhão de compromissos e obrigações para ler esta crônica!
Que esta leitura seja a sua prioridade nos próximos cinco minutos… Cinco minutos de literatura e reflexão!
Boa semana a todos!

Um sonho de simplicidade – crônica de Rubem Braga

Então, de repente, no meio dessa desarrumação feroz da vida urbana, dá na gente um sonho de simplicidade. Será um sonho vão? Detenho-me um instante, entre duas providências a tomar, para me fazer essa pergunta. Por que fumar tantos cigarros? Eles não me dão prazer algum; apenas me fazem falta. São uma necessidade que inventei. Por que beber uísque, por que procurar a voz de mulher na penumbra ou amigos no bar para dizer coisas vãs, brilhar um pouco, saber intrigas?

Uma vez, entrando numa loja para comprar uma gravata, tive de repente um ataque de pudor, me surpreendendo assim, a escolher um pano colorido para amarrar ao pescoço.

A vida poderia ser mais simples. Precisamos de uma casa, comida, uma simples mulher, que mais? Que se possa andar limpo e não ter fome, nem sede, nem frio. Para que beber tanta coisa gelada? Antes eu tomava água fresca da talha, e a água era boa. E quando precisava de um pouco de evasão, meu trago de cachaça.

Que restaurante ou boate me deu o prazer que tive na choupana daquele velho caboclo no Acre? A gente tinha ido pescar no rio, de noite. Puxamos a rede afundando os pés na lama, na noite escura, e isso era bom. Quando ficamos bem cansados, meio molhados, com frio, subimos a barranca, no meio do mato, e chagamos à choça de um velho seringueiro. Ele acendeu um fogo, esquentamos um pouco junto do fogo, depois me deitei numa grande rede branca – foi um carinho ao longo de todos os músculos cansados. E então ele me deu um pedaço de peixe moqueado e meia caneca de cachaça. Que prazer em comer aquele peixe, que calor bom em tomar aquela cachaça e ficar algum tempo a conversar, entre grilos e vozes distantes de animais noturnos.

Seria possível deixar essa eterna inquietação das madrugadas urbanas, inaugurar de repente uma vida de acordar bem cedo? Outro dia vi uma linda mulher, e senti um entusiasmo grande, uma vontade de conhecer mais aquela bela estrangeira: conversamos muito, essa primeira conversa longa em que a gente vai jogando um baralho meio marcado, e anda devagar, como a patrulha que faz um reconhecimento. Mas por que, para que, essa eterna curiosidade, essa fome de outros corpos e outras almas?

Mas para instaurar uma vida mais simples e sábia, então seria preciso ganhar a vida de outro jeito, não assim, nesse comércio de pequenas pilhas de palavras, esse ofício absurdo e vão de dizer coisas, dizer coisas… Seria preciso fazer algo de sólido e de singelo; tirar areia do rio, cortar lenha, lavrar a terra, algo de útil e concreto, que me fatigasse o corpo, mas deixasse a alma sossegada e limpa.

Todo mundo, com certeza, tem de repente um sonho assim. É apenas um instante. O telefone toca. Um momento! Tiramos um lápis do bolso para tomar nota de um nome, um número… Para que tomar nota? Não precisamos tomar nota de nada, precisamos apenas viver – sem nome, nem número, fortes, doces, distraídos, bons, como os bois, as mangueiras e o ribeirão

Bem-vindos a 2014!

Olá, Dickinsonians!

É com muita alegria que o Clube de Português deseja um Feliz Ano Novo a todos!

Viva 2014!

Quais são os planos para esta nova etapa? O povo brasileiro celebra muito a entrada de um novo ano, com diversas crenças e tradições. Você conhece algumas delas?

Tradições brasileiras

A passagem de ano no Brasil tem nome francês, comida italiana e festa no melhor estilo brasileiro, com fogos de artifício, confraternização entre os familiares e amigos e oferendas às entidades do candomblé, umbanda e até para os anjos da guarda. Neste caso, os principais ritos ocorrem nas praias em homenagem a Iemanjá – deusa do mar na religião dos orixás, que protege os fiéis com saúde, amor e dinheiro o ano todo.

Ali ocorre a generalizada tradição de pular sete ondas, que provém de costumes africanos, também em respeito à dona das águas, para que os caminhos sejam abertos. No Candomblé, sete é número cabalístico e representa Exu, filho de Iemanjá, inspirando a prática de um pulo e um pedido a cada onda para sorte futura, sem que jamais se dê as costas para o mar após a homenagem. Acender velas na praia ou jogar rosas no mar completam as comemorações mais tradicionais.

 

Réveillon em Copacabana
Banco de dados da Riotur
Fogos de artifício no Réveillon de Copacabana

 

É na praia de Copacabana, Rio de Janeiro, que a queima de fogos e os rituais à beira do mar reforçam o cenário do Réveillon mais conhecido do país, atraindo mais de 2 milhões de pessoas para o espetáculo de quase 20 minutos. Balsas na orla soltam dezenas de toneladas de fogos de artifício, com símbolos de prosperidade, amor e paz. O custo, calculado em cerca de R$ 2 milhões, é coberto pela arrecadação extra – pode chegar a R$ 500 milhões, principalmente graças a turistas estrangeiros.

Em casa, multiplicam-se as tradições e simpatias na noite de 31 de dezembro, como a crença de comer porco e não aves, que podem trazer azar pelo fato de ciscarem para trás, induzindo quem comeu a regredir na vida. Para um ano melhor, à meia-noite é comum as pessoas pularem com um pé só (direito), passar a virada com dinheiro no bolso, dar três pulinhos com a taça de champanhe na mão e jogar tudo para trás para eliminar o que passou de ruim ou cumprimentar primeiro alguém do sexo oposto para trazer sorte no amor.

A sorte no amor passa por crenças como a de usar peças íntimas novas na noite da virada e pela simbologia das cores, que além da tradicional cor branca nas roupas representando a paz e a luz, inclui: azul para a calma e tranqüilidade, amarelo para a riqueza, vermelho para a paixão, rosa para o amor, verde para a esperança e auto-afirmação e violeta para o equilíbrio das emoções.

Fonte: http://pessoas.hsw.uol.com.br/reveillon2.htm

Para aqueles que procuram algo para inspirar o novo ano, deixo um poema do eterno Carlos Drummond de Andrade… Que esta leitura sirva para renovar os sentimentos e humores de todos os leitores!

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE